Blog | César Nunes

O Direito de Aprender na Escola

César Nunes

Toda criança aprende. A condição humana é aprendida. Há alguns equívocos muito presente nas tradições educacionais e pedagógicas atuais, a maioria deles sustentados por uma concepção inatista de aprendizagem. Fundamenta-se no pressuposto de que já nascemos com certas disposições para aprender ou não. Isso gera controvérsias e complexidades: alguns teriam as “capacidades” de aprendizagem, outros e outras não “teriam” estas qualidades, seriam “ausentes ou lacunares”.

Para nossa concepção de educação os chamados bloqueios de aprendizagem devem ser analisados em sua totalidade, muito mais como um problema da tradição pedagógica autoritária e da forma conservadora de organizar a escola e o currículo do que uma suposta “falha” da criança e do adolescente. Hoje, a ditadura da sociedade tecnológica, a apelação consumista, a exposição banal da sexualidade, a raridade de espaços humanizadores, a lacuna na formação artística, teatral, musical, nas artes plásticas, faz com que a indústria cultural seja um grande poluente sonoro e visual, chegando aos corações e mentes das crianças, sem os necessários filtros dos pais, sem dispositivos de crítica da proposta pedagógica da escola, na direção de mostrar outra música, outro repertório, outras brincadeiras, outras danças etc.

Criar espaços de humanização, de exposição serena das crianças a outras coordenadas antropológicas, a outra atmosfera de sentido, outra música, de outra arte, de alegria, de teatro, de conversas, ajudam muito a “desbloquear” qualquer pessoa!  A escola, para mim, deve ter clareza de ser contraponto, competente e lúcido, à indústria cultural alienante e consumista. Mostrar os grandes mestres e mestras da humanidade, neste tempo especial de aprender, é um trunfo inaudito! O conhecimento sensível e a sensibilidade esclarecida são os condutores do afeto e da lucidez crítica. Ensinar a pensar e a sentir!

Não gosto muito de comparações espúrias, cada nação tem sua identidade e suas escolas. Mas, preciso reconhecer que algumas experiências históricas nos auxiliam a perceber a dinâmica da educação, moderna e contemporânea. As melhores escolas do mundo, da Finlândia, não tem a prática de mensuração e de classificação das crianças estritamente por notas, sobretudo concebidas como aquelas medidas que supostamente refletem a busca de rendimento individual e competitivo. A pedagogia ali dominante está focada na aspiração de que todas as crianças desenvolvam-se em sua faixa etária, a seu tempo e  plenamente integradas ao seu grupo, etário, sócio-afetivo, psicológico e cognitivo; portanto, compreendidas num projeto de articulação grupal, social, coletivo. As crianças são estimuladas a reagirem  a um currículo flexível e pluralista, num arco de possibilidades que engloba o rendimento de todas elas, na pluralidade do grupo, com diferentes tempos, com diversidade de apropriação e absorção. Há uns que prestam maior atenção a uma determinada forma de estimulação didática, outras desenvolvem diferentes reações, mas hoje as crianças desenvolvem plurissintonias, isto é, estão “ligadas” como as próprias multimídias que constantemente acessam, muitas vezes. Eu quero acreditar que todos os seres humanos, todas as pessoas são capazes de aprender; que os estímulos escolares, as aulas, os estudos, as pesquisas, as exposições, a vivência nos grupos, os debates, as conversas, os fatos do cotidiano, enfim, são diversos e podem ser apropriados de diferentes maneiras pelas crianças.

A maior motivação para a aprendizagem vem de imperativos éticos e estéticos de convencimento, realizados com profundidade pelos pais e pela escola. A educação escolar, a leitura, são exemplos que derivam da família. Uma família que não tem livros, pais que nunca leem, que só ficam nos celulares, consumindo tudo o que a indústria cultural oferece, produzirão filhos e filhos desta identidade: hedonistas, consumistas, exibicionistas. Pais que saem com os filhos para os parques da cidade, que visitam sítios, museus, parques ecológicos, teatros, zoológicos, espaços de preservação do patrimônio artístico e cultural, que viajam para Inhotim, por exemplo, e apreciam um museu a céu aberto, que vão a Ouro Preto e absorvem a beleza desta cidade, tombada como patrimônio da humanidade, que visitam Goiás Velho e se enternecem na casa de Cora Coralina, como outro exemplo, dizem muitas coisas a seus filhos. Mais do que ir a Disney e Orlando, somente. Não critico quem vá a estes lugares. Mas fazer destes lugares o protótipo de lazer e turismo é para mim um sinal de pobreza cultural. Prática e sentido que igualmente as crianças aprendem com facilidade. As crianças tendem a reproduzir o universo familiar!

E, por fim, acredito que todas as crianças são capazes plenamente de aprender! Precisamos superar os ritos classificatórios e meritocráticos tradicionais. Eu já tive exemplos de superação exemplar e admirável. Os pais e professores podem começar avaliando o contexto pleno da criança, seu mundo, seus estímulos, internos e externos, ouvindo suas queixas, aceitando suas versões, buscando superar as contradições que levam a aquele resultado. Relativizar as notas escolares, hoje, pode ser um bom começo;  depreende-se que a nota é resultante de uma estrutura baseada na memória e na retenção de informação. Ora, tomada estritamente, esta suposta qualidade mnemônica assemelha-se ao depositário de um “chip”, que está disponível na internet, o Google sabe mais de quantidade ou volume de informação do que a escola etc. A Escola que eu sonho é mais do que informação e memória, é aquela capaz de transformar a informação em algo subjetivo, agradável, pertinente, com sentido! Isto é o que se designa como aprendizagem significativa, que guarda sentido para a criança, para seu universo, para seu mundo. E dele, como sujeito, a criança poderá alçar aos mais longínquos horizontes.

Conversas Sinceras entre Família e Escola sobre Educação.

A família e a escola são os universos matriciais da humanização, do desenvolvimento humano, social e subjetivo, das crianças e adolescentes. Tanto a família quanto a escola precisam acreditar que o exemplo é a melhor prática educativa. Não adiantará muito, nos dias de hoje, fazer discursos e sermões para os estudantes, ou ainda fazer preleções para os filhos sobre as coisas, sem o devido acompanhamento da coerência e da verdade. Para ser educador, para entender o papel de pais e mães educadores, para se tornar e ser reconhecido como um professor-educador, é preciso ser verdadeiro, estar convencido de alguns princípios e agir como exemplo vivo. Se os pais exigem leituras, a melhor forma de educar é sentar junto com os filhos e ler com eles um livro, contar estórias, conversar, brincar. Exigir que as crianças leiam e nunca ser visto em práticas de leitura é um dos exemplos clássicos de incoerência. E se torna o paradigma de outras atitudes. Nossos estudantes gostam de ver as pessoas sinceras e comprometidas com as causas da sustentabilidade ambiental, do compromisso social e da ética. Desse modo, estes princípios tem que estar no projeto pedagógico da escola, no dia-a-dia, nas práticas de acolhimento e de convivência entre os mestres, dos mestres com os estudantes e entre os próprios estudantes. A escola que ensina e prepara os seus estudantes para compreender o mundo do trabalho, da política e da cultura, e convoca a todos para darem sua palavra e contribuição.Só uma geração de professores e gestores humanizados, críticos, sensíveis e participativos produzirá uma geração de estudantes sensíveis, críticos e humanizados! A prática pedagógica cotidiana nos educa! Eu gosto de uma música do lendário grupo musical Legião Urbana que diz: “Você culpa os seus pais por tudo, isso é absurdo, são crianças como você!” Eu acredito que os pais, eu também sou pai, foram formados sobre determinadas regras de conduta, sobre algumas expectativas de comportamentos mais rígidas, próprias de sociedades pré-capitalistas, e que hoje tenhamos todos que aprender juntos, nessa nova realidade social e cultural. Muito há que se aprender hoje, entre as gerações, e nós, professores e pais, temos que ter a grandeza e a coragem de conversar com nossos filhos e sinceramente aprender deles e com eles! A grande e inalienável tarefa da família é a de amar e acolher seus filhos e filhas. A grande lição da escola é a de dar continuidade a essa experiência gratuita de amor e de acolhimento, com a conseqüente função de entronizar a criança e os adolescentes no mundo da cultura, na convivência com os diferentes, na ampliação do universo familiar.

A escola, para ser um agente de humanização, tem que ter relações orgânicas com a família e com a sociedade. Há diferentes papeis e diferentes funções formativas entre a família e a escola, embora ambas contribuam e se articulem na formação da criança e do adolescente, na produção plena da pessoa humana. Não deve a família terceirizar para a escola  as funções e as bases educacionais que são de sua responsabilidade, tais como a formação moral,  a educação ética e a integração social de seus filhos. À escola cabe formar  a criança na continuidade da formação familiar, com ênfase na aquisição de conhecimentos, nas atitudes e nas condutas, nas posturas pessoais e coletivas diante dos fenômenos institucionais e vivenciais, cabe à escola solidificar os valores, acentuar e legitimar as práticas de solidariedade, de responsabilidade, de sustentabilidade, mas o lugar do nascimento e o reforço estrutural dessas práticas é a família. E, de algum modo, é também a sociedade, os seus espaços e as suas expressões, que atuam num processo coadjuvante de formação da criança e dos adolescentes iniciados na família e fortalecidos pela escola. Os pais podem (e devem) participar intensamente da vida educacional, cultural e escolar de seus filhos. Mas participar não é somente investir numa boa escola, cobrar os conteúdos ou manifestar atitudes similares. Participar é acompanhar plenamente o desenvolvimento de seus filhos, a partir de uma premissa de que é preciso acreditar que cada pessoa é uma versão única e original de da vida. Acompanhar seus filhos nessa apropriação da humanidade, ajudá-los no desenvolvimento de suas identidades e na formação de seu caráter, aceitar as características de seus filhos, reforçá-los em suas escolhas, apoiá-los em suas decisões! Os pais presentes na vida moral, cultural e educacional dos filhos são os luminares desses filhos!

Saber, conhecer, são valores socialmente muito importantes, mas tem que ser acompanhados de parâmetros éticos e políticos voltados para a promoção da vida, para a prática da liberdade, para o respeito às diferenças. Não posso ter uma presunção de que o saber esteja acima da vida, da igualdade humana. Não pode a erudição superar a sabedoria! É preciso formar as pessoas para aprender que a vida é o nosso penhor e graça, voltada para a busca da felicidade, como ensinava Aristóteles! Só há dois caminhos para a felicidade: a ética, cultivar valores pessoais e grupais, e a política, estabelecer consensos coletivos altruístas, elevados, inspiradores. Temos que aprender sobre as coisas, sobre o mundo, para sermos pessoas melhores, solidárias, sensíveis! Dizia Gandhi: Seja você o primeiro a realizar as mudanças que você deseja para o mundo! Os meios de comunicação de massa, hoje chamados de mídia, estão hoje num vertiginoso processo de transformação, de fusão e de ebulição criativa. São múltiplas suas fontes e formas. Mas, a despeito do reconhecimento da grandeza da Internet, dos utensílios de manejo digital pluralista (rádios, fotos, imagens, jogos, arquivos) isso não pode ser um fim em si mesmos. Uma radical dependência desses objetos digitais que parecem mágicos pode tirar a pessoa da dinâmica da vida real. Saramago usou a célebre metáfora de Platão: “estão todos numa caverna, vendo o mundo às avessas!” Para mim essa tecnologia de informação e de comunicação, rica e diversa, não pode prescindir de um condicionamento ético, antes que tecnológico. Junto a tais parafernálias eletrônicas vem uma ansiedade de vencer, um senso de descartabilidade, uma sensação de poder e de manipulação que pode retirar importantes descobertas humanas da pauta cotidiana da vida. É preciso ter um senso ético para o domínio e não a dependência tecnológica descartável e rapidamente obsolescente. Trata-se mais de uma questão de formação, de diálogo, de debates, do que interdição ou imposição de limites.

César Nunes, Outono de 2016

A educação afetiva

Quando me proponho a analisar, a debater e a buscar compreender a complexidade da identidade da educação brasileira, desde a sua formação histórica, passando por seus determinantes políticos e filosóficos, até chegar aos processos curriculares, à organização didática e administrativa da escola, à consideração da questão da avaliação, entre tantos outros temas, acabo percebendo que deixamos de lado dimensões antropológicas essencialmente humanas, e que hoje são desafios e urgências, analíticas e propositivas. Uma das mais urgentes dimensões a se considerar é a questão da afetividade, a qualidade social e subjetiva das relações pessoais, das relações travadas entre as pessoas, entre os sujeitos que estabelecem relações radicalmente humanas na escola. Descuramos, não assumimos como importantes ou até mesmo, como consideráveis, as questões que envolvem a educação afetiva e emocional.

O ser humano é um ser aprendente. Aprendemos a condição humana, ela é transmitida pela prática social, pela cultura, pelas interrelações entre as gerações, pela linguagem, pelas condutas, pelos saberes e conhecimentos, pelos valores, pelas instituições, enfim, por tudo aquilo que acumulamos em nossa marcha e trajetória histórica. A condição humana é aprendida. Neste sentido, não nascemos prontos, não somos seres acabados, somos processo, somos projeto aberto, somos sempre travessia! Cada pessoa é uma construção, original e única, da diversidade da condição humana. Daí ser a vida, a convivência social, a maior troca simbólica da formação humana. Conviver com outras pessoas, estar juntos, é entender a vida, dramática e maravilhosa, em sua plenitude.

Neste sentido é que tenho defendido a questão da educação afetiva. Afetividade significa, para esta consideração reflexiva, educar para a sensibilidade, educar para ter imperativos éticos e estéticos referentes a outras pessoas, à natureza, à diversidade da vida e do mundo, aos valores, às artes, aos conhecimentos e, sobretudo, à polifonia das personalidades, das diferentes pessoas, culturas, identidades, grupos e movimentos que nos cercam. A vida, em si, é uma grande epifania de vivências, de desabrochamentos de experiências, de vitalidades, emoções, alegrias, perdas (igualmente) e achados! Compreender a vida como dádiva, de Deus e da natureza, é um primeiro passo para aprender a viver bem!

Educação afetiva é a criação de uma atmosfera vivencial de sensibilidades, de gestos elevados, esteticamente belos e bons, como aqueles que cultivamos como essenciais. Praticar a palavra acolhedora, a bendizer os dias e as pessoas, a celebrar os encontros, a pedir desculpas e perdões pelos erros, pelas contradições, pelos desvios padrões que acontecem entre nossos desejos, nossas necessidades e nossos atos reais, é sempre cultivar a paz, a leveza, a generosidade, a esperança, o bom trato, a convivência pluralista, diversa, amorosa, isto é, carregada de laços de pertencimento, de pequenos gestos de acolhimento, de demonstração da especialidade de nossa condição cultural humana.

Educação afetiva é erigir alguns valores como “sagrados” para a convivência familiar, escolar, social e grupal, tais como, a disposição para o trabalho em grupo, a decisão consultiva, as escolhas voltadas para o bem de todos, a paz e a democracia, o respeito à dignidade de toda pessoa, a condenação de toda forma de violência, simbólica ou real, a condenação firme de toda crueldade, de toda covardia, de toda destruição predatória do ecossistema, dos animais, das flores, do meio-ambiente, da natureza. Ter sobretudo o sagrado amor à vida, proteger os que precisam de mais afeto, de mais proteção, combater todo sofrimento humano, notadamente aquele socialmente produzido, para que possa ser socialmente transformado.

Educação afetiva é mudar o olhar para com as crianças, os adolescentes, os jovens. É ser exemplo, é convencer pela palavra e testemunhar com as atitudes, no dizer da grande alma Gandhi: “Seja você no mundo a mudança que você deseja para ele”. Educar para erigir “aquilo que nos afeta, a afetividade” sobre coordenadas antropológicas de solidariedade, companheirismo, amizade, lealdade. Como cantava o poeta pantaneiro A. Sater, com seu amigo “caipira” R. Teixeira: “É preciso amor para poder pulsar, é preciso paz para poder sorrir, é preciso a chuva, para florir!”. Observem bem, a chuva está caindo, a natureza está fazendo a sua parte! Faltam as outras duas disposições para a vida ser melhor!

Educar Para as Virtudes.

Tenho defendido, em muitas  e diversas frentes de debates, que a educação é um longo e exigente processo de humanização, isto é, de produção social e de engendramento cultural da condição e da identidade humana. Não se trata de defender uma posição unilateral, como se somente houvesse esta construção social, isto é, realizada pela coletividade, pelas instituições sociais, com um acento quase que único da dimensão cultural, grupal, histórica, cultural. Há igualmente a apropriação subjetiva, a forma, o ritmo, a cadência ou a identidade de nossa apropriação subjetiva das coordenadas humanas de origem e de identidades  sociais; a forma com que aprendemos a língua, as condições de construção de nossa auto-estima, o acolhimento das pessoas de nossa família, a descoberta significativa do corpo e de suas necessidades e marcas, as vivências com outras crianças, com os adultos, com o mundo exterior, com a sociedade organizada, com toda a civilização e a cultura, através dos saberes, dos conhecimentos, das manifestações dos mais velhos, enfim, de todo o mundo cultural e natural. Somos pessoas híbridas, constituídas pela sociedade, pela nossa natureza, pelas nossas formas próprias  de reagir e assimilar nossas necessidades e estabelecer nossos desejos, de constituir as aprendizagens, de apropriar dos conhecimentos e de observar as atitudes circundantes.

Nesse sentido, a condição humana é aprendida. E, na marcha das sociedades e da civilização, ainda que haja diversas matrizes e diferentes tradições, fomos constituindo modelos e paradigmas de transmissão, de internalização, de educação e de formação dos consensos morais, das matrizes éticas e dos referenciais atitudinais dos grupos. Ninguém nasce ou se faz pessoa sozinho, nascemos numa cultura, e nela nos fazemos homens e mulheres; através da linguagem, na repetição de fonemas e sons, para aprender a falar, no domínio de referenciais sensoriais e motores, para aprender a andar, na apreensão de papinhas e sopinhas até aprender a comer, na estimulação e nas práticas de ninar para aprender a dormir, nas estimulações para rir e nos afagos para aprender a parar de chorar, tudo é aprendizagem! O que é quente e o que é frio, o duro e o mole, as formas físicas do mundo, as regras sociais basilares, os horários, as atitudes esperadas, enfim, a educação social. Aprendemos a ser e a agir como seres humanos, com os outros seres humanos! E, nesta tarefa, aprendemos as coisas materiais,  fundamentais e necessárias para nossa proteção e crescimento, as práticas nutricionais, as coordenadas higiênicas e corporais, as expressões de comunicação, oral, corporal, facial, e todas as suas derivações. Mas, do mesmo jeito que aprendemos as coisas fundamentais para viver; comer, vestir, dormir, andar, teremos que aprender as coisas de natureza moral, isto é, os valores, as regras, os consensos sociais, os hábitos. Nesta segunda dimensão, vamos aprendendo as relações sociais constituídas, os consensos básicos de convivência, as convenções e limites da sociedade, familiar, escolar, social, grupal etc. Há sempre aprendizagens sociais, algumas de base familiar, outras de natureza e de responsabilidade social, isto é, que dizem respeito ao agir na sociedade.

Podemos aprender sempre, e em todos os atos e atitudes humanas há conseqüências de nossas atitudes e ações. E tais conseqüências alcançam tanto nossa realidade pessoal e singular como atingem e expressam sentidos para os demais seres que conosco convivem. Para fortalecer as coisas boas que aprendemos, aquelas que nos dão sustentação como pessoas, vamos constituindo algumas ações referenciadas, com o reforço de sentidos definidos como boas ou bons, e vamos repelindo as ações e atitudes que guardam sentidos considerados nocivos, denominados como supostamente  más ou maus. Aos hábitos ou comportamentos repetidos, de base e natureza consideradas boas ou marcadas pelos efeitos que chamamos bons e necessários, chamamos “virtudes”. Aos hábitos ou comportamentos socialmente negativos, com efeitos que consideramos impróprios ou inadequados, chamamos “vícios”. A tradição filosófica grega dedicou muitas páginas e inolvidáveis reflexões sobre estes temas. Sócrates, Platão e Aristóteles definiram grande parte destes axiomas.

Nesta ambivalência, podemos aprender a viver e a reproduzir, com convicções internalizadas por sentidos simbolicamente fortes, constituintes de nós mesmos, através de hábitos bons, que se reconhecem como virtudes, ou ainda podemos ser educados para a adoção de ações e vivências, comportamentos e atitudes definidas como hábitos ruins, isto é, que produzem coisas consideradas más, definidas como vícios ou hábitos negativos. Esta contradição é paradigmática. Somos educados para viver o bem e para praticar o mal, que sempre são igualmente considerados socialmente produzidos e culturalmente assim definidos. Nada advém de nossa suposta “natureza”. Ninguém é bom ou mal em si mesmo, como se nascesse com algumas marcas já definidas a priori, em sua personalidade, em sua ” alma” ou em sua identidade subjetiva. Esta premissa é originária de tempos muito antigos, que supunham que as almas definiam nossa identidade no mundo, que já havia, antes mesmo do nascimento, almas boas e ruins, que nos constituíam como tal. O sentido do bem e do mal são socialmente constituídos. Nada é definido como se fosse aquém da nossa história ou de nossa experiência cultural. O bem e o mal são condições e dimensões sociais e culturais, aprende-se o bem como aprende-se o mal. Não se nasce com eles. São adquiridos ou internalizados pela educação moral.

Deste modo, para ensinar as virtudes é preciso primeiro reconhecer o que seja a vida virtuosa. Os valores éticos, as elaborações elevadas da beleza e do bem, os valores da convivência e da organização da sociedade, as virtudes pessoais e as virtudes esperadas para a vida social terão que ter legitimidade e reconhecimento como um todo, nas práticas sociais. Somente uma geração de pais, de educadores e de professores, de artistas, de agentes sociais, que vivem determinadas virtudes, poderão ter legitimidade para educar e ensinar para as novas gerações as mesmas premissas éticas e estéticas que desejam para o mundo. A virtude é ensinada, sempre. uma sociedade que eleja a tolerância e a diversidade, a dignidade da vida humana como sagrada, a compaixão, o acolhimento, o respeito a todas as culturas, a solidariedade e o amor – certamente deverá repassar estes valores para seus filhos e filhas! A melhor educação para as virtudes é a persuasão autêntica e o exemplo testemunhal. Como dizia Gandhi: “seja você no mundo a mudança que você deseja para o mundo”. A virtude é ensinada, o melhor ensino é o exemplo, a prática moral!

César Nunes

A Educação Pública Paulista: improvisação, abandono e penúria

A história é um complexo de acontecimentos, dialéticos e contraditórios, da qual vamos buscando extrair sentidos, reconhecer as direções, extrair ou produzir justificativas ou explicações. A esfera dos acontecimentos, por sua vez, esconde as diferentes e diversas intenções, os sentidos, os plurívocos significados, os antagonismos dos agentes, dos atores e das próprias dinâmicas destes  protagonistas, envolvidos neste processo. Há a estrutural posição de classe, que define os lugares, os interesses e as intencionalidades veladas. Para decifrar a história é preciso manejar uma filosofia da história.

Neste sentido, é muito triste, pesaroso até, ver os acontecimentos que marcam o cenário recente da educação paulista. Não são os professores, nem os alunos, menos ainda os servidores da grandiosa rede paulista, os protagonistas desta incúria. O estado de São Paulo está, isto sim, em sua matriz governativa, como poucas vezes esteve, sem rumo, à deriva, sem projeto ou interlocução, na área da Educação. Prevalece um ranço tecnicista, um acento burocrático e autoritário, e um verniz produtivista neoliberal, enleados pela improvisação, pelo descuido e pelas  irresponsabilidades!

O descabido projeto de reorganização das escolas, levado a cabo por um governo insípido, a demissão do secretário estadual declarando ter “vergonha’ da estrutura educacional e escolar paulista, a corajosa e desesperada ocupação das escolas ameaçadas, tomadas pelos próprios alunos, para defendê-las,  mais de duzentas escolas, o enfrentamento com a polícia, a grotesca declaração do chefe de gabinete da SEE, na ocasião, usando a infeliz metáfora de um “estado de guerra” com os estudantes do ensino médio, as bombas de efeito moral, os atos e as atitudes bélicas, transformando a educação numa questão de “segurança” – tudo isso culminando na nomeação do ex-presidente do Tribunal de Justiça para a pasta da Educação estadual! Não teria bastado a humilhação aos professores, numa greve sem resposta, conduzida pela cínica burocracia governamental. Triste tirocínio, um desembargador na educação, sinal de pobreza de espírito, escárnio, violência simbólica, desrespeito franco e cabal, desconhecimento do mundo da educação, falta de projetos, falta de tudo! Duas coisas ainda me assustam mais, a questão do encaminhamento do Plano Estadual da Educação de São Paulo, o fechamento de mais de mil salas, silenciosa e paulatinamente, a asfixia burocrática e perversa da educação pública pelas medidas avaliativistas, estreitas e mercantilistas, e a vergonha da denúncia do suposto roubo,  do grau de corrupção mais absurda, da merenda escolar paulista!  Oh tempora, oh mores!

Meu Senhor! O que pode haver de mais trágico, de mais macabro e pernicioso do que este cenário? Um estado que ainda não finalizou seu Plano Estadual de Educação, pois o governo paulista desautorizou e sabotou o Plano feito pela própria Comissão, anteriormente nomeada, ao final de 2015. Comissão esta que coletara em audiências públicas a pauta do referido Plano, como deve ser a dinâmica democrática. São Paulo não tem ainda um Plano Estadual homologado e sufragado. Será praticamente um documento outorgado, como reza a infeliz tradição do autoritarismo, da arbitrariedade e do desmazelo!

O piso salarial dos professores do estado de São Paulo é o sexto pior salário entre os 26 estados e o distrito federal. Desorganização curricular e organizacional, desestruturação legal, pois o Estado não apresenta, em seus documentos e resoluções, nenhuma organicidade com os documentos matriciais do PNE (Lei 13.005/2014) ou das Diretrizes Curriculares Nacionais, diversas e polifônicas. Permanecem os discursos fragmentários, órfãos do PNE neoliberal  de 2001 ( Lei 10.172/2001) sobre “competências e habilidades”, ” empreendedorismo”, “avaliação por resultados”, “produtividade”, “desempenho”, “bonificação” etc. que fariam Theodor Schutz corar de vergonha, de tão banais e inautênticas formulações da teoria do capital humano. A educação paulista está vilipendiada. Seu estado de inanição e penúria, no início deste 2016, me faz entristecer e quase declinar, com pesar.  Mas a história não para. Os estudantes das escolas nos mostraram que o “novo sempre vem”. É hora de lucidez e de esperança para reverter este quadro! Bogdan Suchodolski me inspira, ao escrever: ” Se queremos educar os jovens de modo a tornarem-se verdadeiros e autênticos artífices de um mundo melhor é necessário ensiná-los a trabalhar para o futuro, a compreender que o futuro é condicionado pelo esforço do nosso trabalho presente, pela observação lúcida dos erros e das lacunas do presente, por um programa mais lógico da nossa actividade atual”.

O ano de 2016 e a Educação como direito subjetivo e social.

A educação básica do Brasil precisa ser prioridade nacional. O Plano Nacional de Educação tem 20 metas e 254 estratégias para a produção de um novo padrão de serviço público educacional e de uma nova vivência da educação escolar, como direito subjetivo e social. Não se trata mais de entender a educação como mediação para o trabalho ou para uma cidadania tutelada. A cidadania viva e real que aspiramos é aquela que nos engendra como pessoas, como seres sociais e culturais, plenos de direitos e da consciência deles.

Mas, nem sempre foi assim. A educação e a escola, no Brasil, ressentem-se de identidades autoritárias, plasmadas por formações econômicas e políticas de dominação, de inculcação ideológica e de padronização comportamental. Nossas matrizes culturais expressam este nicho estrutural. A escola só encontra as chaves de sua decifração na prática social. Não se explica a escola pela escola e seus regimentos, seu currículo, sua identidade institucional. Quem quiser decifrar a educação e a escola terá que estudar a sociedade que a definiu e a mantém.

A vivência, ainda que tênue e curta, de um novo processo social e político, inaugurada pela conquista do estado de direito, formalmente marcado pela promulgação da Carta Constitucional de 1988, já condensa uma nova configuração jurídica para nossa realidade brasileira. O Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso, o Estatuto da Juventude, a Lei Brasileira da Inclusão, a Lei Maria da Penha, a conquista da obrigatoriedade da educação escolar de 04 a 17 anos, determinada pela Emenda Constitucional 59, o Plano Nacional de Direitos Humanos, o reconhecimento da União Estável de Pessoas do mesmo sexo, o casamento civil homossexual ou homoafetivo, as políticas de reparação, o reconhecimento da dignidade plena da condição do negro no Brasil, a política de proteção ambiental, a demarcação de terras indígenas e quilombolas, o Código Florestal Brasileiro, o Plano Nacional de Educação, com a indicação de 10% do PIB para o financiamento da educação brasileira, entre outros dispositivos, revelam a efervescente revolução jurídica e cultural engendrada no âmago da sociedade e da cultura de nosso país.

Eu prefiro ver a “terceira margem do rio”! Considero a realidade da política, levo em consideração a dinâmica da economia, mas, para mim, a sociedade civil brasileira se estrutura sobre uma nova base: o direito de todos, a tolerância, a diversidade, o “ethos” republicano. Esta mudança se dá em cada embate cotidiano, em cada frente de lutas, todo dia, em todos os cantos e antros deste nosso país. Temos que ter clareza que a legitimação destes novos direitos civis e o empoderamento destes novos sujeitos sociais é um processo demorado, feito de avanços e recuos, passos e descompassos. Mas, ninguém consegue parar o tempo, nem a marcha da história, nem a força das contradições!

Em 2016 teremos outros campos e outras atalaias para defender o que já conquistamos, com a firmeza de quem sabe o preço destas conquistas, na consciência de nossa história cruel e excludente. A escola, como espaço de humanização e de formação para a cidadania, cultural e política, deverá tomar parte deste debate, desta construção, na direção da educação que emancipa e que produz o homem e a mulher para a vida em sociedade!

Mas é preciso ser revolucionário no conteúdo e na forma. Fazer acontecer a história da emancipação e da libertação de todos os grupos, subjugados e oprimidos, com traços de humanização e de superação, na direção da utopia! Em 2016 estaremos novamente atentos, para fazer valer a luta dos que deram o melhor de si, suas idéias e movimentos, alguns deram mesmo a própria vida, para que pudéssemos hoje viver o que estamos vivendo e ver o que estamos vendo acontecer! Para levar adiante estas causas, de humanização e de cidadania, com nossa consciência lúcida e crítica, seguida de nossa vontade esperançosa e propositiva!

Da dimensão pública e da natureza da publicidade ou ainda Da dimensão privada e da natureza da privacidade

Tenho pensado muito em escrever algumas considerações sobre a questão das dimensões públicas e privadas de nossa condição social e particular. Vivemos em sociedade, todas nossas ações e todo nosso ser está marcado por esta causa eficiente: somos processo e produto da prática social. Mas, dialeticamente, somos sujeitos, no sentido de assumir uma identidade, ainda que seja uma esfera aberta, histórica, como nosso fulcro identitário, ao mesmo tempo em que somos assujeitados, isto é, submetidos, seja pela educação, pela cultura, pela história. Estas duas dimensões articulam-se em nossa identidade cultural, polimórfica, polifônica, pluralista. Mas, para dar conta do peso existencial que nos abate, constituímos espaços menores, particulares, que significa ” o que é próprio de uma parte”, outros denominamos singulares, que dizem respeito ao pessoal, ao “singular”, ao próprio de cada um. Há dimensões sociais e coletivas, grupais e particulares, pessoais e subjetivas. Cada uma destas dimensões da realidade deveria ser, amiúde, bem compreendida e bem vivenciada.

Eu não abomino a dimensão social, seria uma forma de negação falsa, já que a dinâmica da vida social e da sociedade nos constitui. Mas eu acredito na necessidade de espaços prioritários de segurança afetiva, de desvelamento irrestrito, de calmaria, sem exposição, sem controles extremados, que são os espaços de privacidade, no sentido cultural e psicossocial, como a família, como o círculo de amigos, como os lugares de paz, o deleite do passeio, a praça, os jardins que gosto, a igreja. Nestes espaços eu conheço pessoas, cumprimento uma e outra, riem para mim, acenam, perguntam sobre a gripe, sobre meus filhos etc. Convivo há mais de 3 décadas com estas pessoas. São minha riqueza privada. Viver bem no ambiente privado, neste sentido cultural, no mundo da vida, é uma virtude. E um direito!

Hoje há uma ansiedade para ser visto. Sei que todos precisamos de muitas destas coisas, mas algumas pessoas, sem avaliar bem, extrapolam as dimensões, confundem os ambientes, desarticulam as identidades. Tomam o que é público como se fosse particular ou subjetivo. Desta esquizofrenia ética e política deriva a corrupção, o crime, entre outros fatores. Mas há pessoas que apropriam-se das privacidades (dos outros) como se fossem coisas e objetos públicos, de todos ou para todos! Equivocam-se!

Hoje há a questão das fotos públicas! Gosto de fotos, autorizo que coloquem fotos minhas nas páginas pessoais, como uma forma de convívio, uma distinção, um acolhimento. Aceito todos os carinhosos pedidos, faço poses para fotos. Meu trabalho é público, a atividade ali é pública, não vejo nenhum obstáculo ou dificuldade em tirar e publicar fotos de dimensões e de atividades definidas como públicas. No meu trabalho, a natureza da ação é pública, as fotos registram os olhares, as impressões, os acolhimentos das pessoas ao meu agir, às minha idéias, textos, discursos etc! Todas as fotos públicas eu as cultivo como públicas, as valorizo e respeito!

Mas não gosto de fotos que expõem dimensões privadas, pois a natureza destes espaços é outra! Uma festa de amigos, uma festa em família, um jantar, um churrasco, um batizado, uma celebração – são dimensões particulares, são de um grupo de pessoas, não são públicas, não são, a priori, para todos. Fotografar, com autorização, estes acontecimentos, é parte de nossa cultura. Até mesmo publicar, aqui e acolá, uma ou outra foto, pode até ser visto como uma forma de divulgação. Com limites. Mas deleitar-se em expor fotos, definitivamente privadas, no espaço público, para mim é ume relativa confusão. Eu queria pensar que conviver com alguém, no âmbito privado, é tão grandioso, muitas vezes, que somente a liturgia de estar juntos seria o prêmio, a compensação afetiva. Não há tanta necessidade desta ansiosa e impulsiva vontade de publicizar as coisas do cotidiano, da vida comum e boa do dia a dia! O particular deveria ser visto por aqueles que vivem naquela parte, naquele espaço privado. O singular é da pessoa. Descartes escreveu a famosa tese da modernidade racionalista: Penso, logo existo! Hoje parece que mudamos estruturalmente o texto para: Sou visto, logo existo!

César Nunes

A Cultura é que nos faz humanos! A Cultura nos Humaniza!

Quero abrir aqui uma reflexão coletiva sobre Cultura. Mas, que seja feita em alto grau de fundamentação. Não se pode perder tempo com conceitos alienados, rudes, ideologicamente colonizados. O conceito de “cultura” nos ensina muitas coisas! Aprendi com Alfredo BOSI. O verbo latino “colere” significa “cultivar”, “arar a terra”, “revolver, plantar na terra”. Um sentido bem material, bem real, sem nenhuma abstração inicial.  Reporta-se às condições do homem na fase de sedentarização, quando necessita produzir os meios de sua subsistência na terra, em condições de exploração agrária, teria que inventar a agricultura e fixar moradia e proteção coletivas. Ao “cultivar” a terra os grupos humanos extraem da terra sua sobrevivência. Esta é a premissa basilar. Os homens estão fadados a produzir os seus meios de sobrevivência material. Transformar a natureza para saciar suas necessidades!

O particípio passado do verbo latino “colere” é a palavra “Cultus”, que significa: “o que já foi cultivado, o que já foi explorado, o que já serviu de vida para todos”. Nas regiões e nas terras já esgotadas, noutras de difícil trato agrícola, ou naqueles espaços marcados por especiais condições,  tais como os morros, colinas, alguns penedos, costumava-se enterrar os mortos, sobretudo com marcas de fácil reconhecimento e que eram rigorosamente observadas e consideradas como sagradas para os grupos humanos. O primeiro rito religioso genuinamente humano é o reconhecimento do culto aos antepassados, aos mortos. O “culto” se expressa aqui, o  ethos da religião é o culto aos mortos, o reconhecimento da “terra que já cultivada”, que já “serviu e alimentou o grupo”.

O particípio futuro do verbo latino “colere” é “Culturus”, que significa: “o que se deve ensinar aos pequeninos, às crianças, aos jovens, para que eles possam cultivar a terra e reproduzir a vida social, material, econômica e espiritual do grupo”. Cultura vem desta raíz. Cultura é a dimensão histórica, social e grupal, da vida humana em sociedade. Sem cultura não se realiza a dimensão do agir humano em sociedade: presente, passado e futuro! A cultura é a consciência material e coletiva da ação humana, na cultura está a identidade dos grupos humanos!

Cultura é tudo o que os grupos humanos e as pessoas produzem. Tudo o que o ser humano faz e realiza é cultura! Tanto quanto trabalhar e pintar, fotografar e cantar, escrever e chorar, rezar e amar, fazer casas e usar brincos, contar os dias e olhar a lua, registrar poesias e pintar nas cavernas as cenas de caça – tudo, absolutamente tudo isso é a produção social da condição humana!

O primeiro passo, na direção certa, já é a metade do caminho!

O primeiro passo, na direção certa, já é a metade do caminho!
Esta bela frase, como uma criteriosa máxima, derivada de uma iluminada filosofia de vida, é atribuída ao sábio oriental Lao-Tsé. Tenho muito apreço e admiração por este pensador, e pelas tantas frases ou fragmentos de seu pensamento, que permaneceram vivos na memória da civilização e da cultura humana universal. Ela me ajuda agora a realizar uma importante escolha! A decisão de assumir a tarefa de criar, de alimentar e de manter ativo e atualizado, um espaço de debates virtuais, um denominado blog, foi muito difícil! Explico as minhas razões. Gosto muito de escrever, sinto uma alegria imensa ao sentir que as pessoas acolhem e demonstram generosas ressonâncias sobre minhas pequenas postagens nas redes sociais, sobre alguns comentários que redijo na minha página pessoal, no endereço www.facebook.com/profcesarnunes ou em outros espaços, reais e virtuais, de comunicação e de diálogos. E, por gostar de escrever, tenho receio de escrever por demais, de não saber o limite, de estender por demais os textos, enfim, de acabar sendo impertinente e desmedido. Minha geração é conhecida por ser uma gente exagerada! Outro receio, o de não dar conta das coisas, de não corresponder ao ideal de um blog, de não saber responder às eventuais demandas, no tempo tão rápido, dinâmico e vertiginoso, da vida de hoje. Também não queria cair no pantagruélico mundo de banalidades e veleidades sem sentido. Tenho dúvidas de conteúdo e de forma! Fiquei meio perdido entre a projeção ideal e as dificuldades reais. Mas, ao cabo destas dúvidas, acabei sendo convencido de que deveria tentar escrever este blog! E decidi começar hoje, dia 11 de janeiro de 2016, dia em retomo minha exigente agenda, agora para o ano de 2016! Quero muito que seja um espaço de comunhão de ideais, de fortalecimento de convicções, de franqueza e de lealdade nas divergências, mas, sobretudo, de respeito à diversidade, ao pluralismo, à pluralidade de toda sorte e natureza. Espaço de acolhimento e de alegria, pontuado por debates, por opiniões e ressonâncias, por comentários e apontamentos, alguns criteriosos e conceituais, outros mais leves, próprios da primícia dos acontecimentos, alguns carregados de argumentações, outros como olhares, muitas vezes ainda impregnados pela força de nossa realidade! Como Lao Tsé dizia, sabiamente,
(…) um caminho de mil léguas começa com um primeiro passo! E este primeiro passo, na direção certa, já se traduz na metade do caminho!
creio que já demos juntos o primeiro passo. Venham comigo nesta caminhada!
César Nunes